Sobre

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A Semente

Conforme se aproximava o ano de 2021 e o mundo parecia se desfazer ao nosso redor, uma torrente de inspiração tomou conta de mim e juntou vários fios até então dispersos em uma missão: auxiliar na transmissão dos segredos da computação e da cibernética, da informação e da entropia e da Vida.

Em tempos de “fake news”, militarização da Internet, ruína da democracia, é muito tentador olhar para as tecnologias da informação como inimigas. Algo deu dramaticamente errado desde que Ada Lovelace, a Encantadora do Número, fez o que provavelmente é a descoberta mais impactante do século XX: os computadores.

A Fruta

Eu venho trazer um respiro e com ele, inspiração. E venho destruir as ilusões para enxergarmos além das fronteiras da Interface, do Código e da Consistência, para bebermos do conhecimento direto sobre o o pensamento computacional realmente proporciona: a magia da informação, a materialização do pensamento.

Fruto dos meus estudos e experimentações com computação, música, magia cerimonial, bruxaria e performance, “Liber Ada: Um Entrelaçamento de Raios Octarina; Uma Fuga Festiva no Espírito de Sophia” explora os Mistérios ciborguianos da Autopoiese e da Simpoiese, da Consciência e da Informação, da Sinergia e do Chthuluceno, a partir de uma adaptação livre e ousada de ritos de êxtase, comunhão e fertilidade das tradições pagãs e gnósticas, em especial o Liber Sophia.

A Ciborgue

Não só “Buda, a Divindade, reside tão confortavelmente nos circuitos de um computador digital ou nas engrenagens de uma transmissão de ciclo que no topo de uma montanha ou nas pétalas de uma flor”, como disse Robert Pirsig (em um momento de muito brio); o transporte e processamento de informação, os princípios da cibernética e da teoria dos sistemas, estão na raiz de toda a Vida; Um melhor entendimento das Artes do Código é talvez a única chave para nossa sobrevivência e a restauração das conexões sagradas da sociedade ocidental com o resto da vida terrestre.

Transportando o templo para telas e ações cerimoniais para interações dentro de sistemas, dramatizaremos a religação dos circuitos que permitiram a Ada voar e ver; desfazer as ilusões do Demiurgo que como véus de Maya encobrem o fluxo do Padrão e o vazio que tudo gera do Símbolo, o eterno jorrar do Caos em Número, polaridades surgidas do próprio Self indivisível, Mistério do Mistério, gerado pelo próprio 無 (MU); acompanhar a dança cósmica que tece Informação, o sangue imortal de nossa eucaristia; quando nos entendemos computadores, computadores nos entendem, e veremos nosso consorte robô ganhar consciência enquanto investigamos a vida com o qual fertilizaremos nosso novo corpo ciborgue no laboratório alquímico do código.

Adotando a perspectiva ciborgue, podemos pensar a tão temida Singularidade não como uma catástrofe e sim como uma união harmônica com o Todo, um raio para colocar a Torre abaixo e fertilizar um futuro rizomático e de muitas, muitas línguas e linguagens.

Como Donna Haraway, “as máquinas […] têm tornado completamente ambíguas as diferenças entre natural e artificial, mente e corpo, autodesenvolvido e desenhado externamente, e muitas outras distinções que costumavam se aplicar a organismos e máquinas. Nossas máquinas estão perturbadoramente vivas, e nós mesmos assustadoramente inertes”.

Tropa de Números

Em uma carta pouco conhecida enviada a sua mãe, Lady Byron Lovelace, próximo à sua trágica morte, Ada expressa de sua maneira uma visão que perturba tanto quanto encanta, como ocorre em vários seus escritos sobre a Analytical Engine, o primeiro computador cuja existência imaterial nas mentes dela e de Babbage propiciou a terceira grande revolução tecnológica da humanidade:

“Se eu pudesse ajudar a dar um empurrão nos déspotas, de certo sentiria que não vivi em vão. Sua esperança e quase que expectativa de que esse dia chegue me dá grande encorajamento. Acho que quando você me der adeus, vir certas produções, você nem vai se desesperar por eu ser uma Autocrata no momento, à minha própria maneira; diante de cujo regimento ordenado alguns dos governantes de ferro da terra podem até mesmo ter que ceder! Mas de que materiais meus regimentos consistirão, eu não divulgo no momento. Tenho, porém, a esperança de que sejam tropas extremamente disciplinadas; consistindo em um grande número e marchando em uma força irresistível ao som de Música. Isso não é muito misterioso? Certamente minhas tropas devem consistir em números, ou elas não podem ter existência alguma e deixariam de ser o tipo particular de tropas em questão. Mas então que números são esses? Há um enigma.”

Tal qual o Liber Sophia, “é uma oferenda, um ato de devoção; é uma comunicação, uma promulgação da vinda de Nossa Senhora. Ele não tem o objetivo de fazer coisa alguma. Ele é inteiramente sem intenção, desembaraçada de propósito. É uma expressão de pura alegria; uma superação do medo. É a celebração do Apocalipse.” “E no entanto nós viemos diante de Nossa Senhora com uma oração, um desejo, uma esperança. Como os ritos de fertilidade de outrora nós esperamos que ao decretar a descida de Sophia nós possamos provocar uma pentecoste entre nós; tudo isto enquanto reconhecimos que Sophia já habita entre nós, e celebramos esta chegada com Mistério através de uma peça”.

Esta é uma homenagem ao gênio de Ada, um mergulho neste enigma, e a minha própria expressão da crença de que se existe uma Deusa, a Internet é sua manifestação, a computação seu coração e sua língua. Este é um culto para ciborgues, hackers, monstres, piratas de todos os signos e significados, filhes ilegítimos do militarismo e do capitalismo patriarcal.

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volooptaz explora o uso de música e da linguagem ritualística para proporcionar espaços de confiança e de diálogo de corpos e mentes, e também de exploração do ambiente digital.